(Editora Roncarati): Pontes, o 14º Congresso Brasileiro de Atuária será na próxima semana. Qual a sua expectativa em relação ao evento?
Marco Pontes: As expectativas são as melhores possíveis. Já sabemos que será o maior congresso de atuária. Já somos mais de 500 profissionais atuários que estarão presentes. Poderiam ser muito mais se não fossem os custos elevados embutidos para ir ao Rio, isto é, a estadia e o deslocamento, os preços das passagens aéreas no Brasil é um caso à parte, especialmente das unidades da federação mais distantes e, claro a tragédia do Rio Grande do Sul que, normalmente costuma enviar um grande contingente de profissionais aos congressos do IBA. O aeroporto Salgado Filho ainda está sem funcionamento. Eu penso que o número elevado de profissionais envolvidos, de certa forma, revela uma grande expectativa das pessoas. Eu, particularmente estou com muitas expectativas. Esperamos que a Comunidade Atuarial aprecie os temas que serão tratados e que cada um dos 21 painéis seja capaz de acrescentar valor agregado para os expectadores. Trata-se do maior encontro de profissionais atuários que acontece a cada dois anos.
(ER): Você disse 21 painéis? Como foram definidos os painéis? Pode falar um pouco sobre eles?
MP: Eu vi a matéria que vocês fizeram com a nossa presidente. Lá ela destacou muito bem a odisseia que representa fazer um evento dessa magnitude. O que posso dizer é que a definição dos painéis passou pelo crivo de uma comissão científica que trabalhou de forma incessante na elaboração do cardápio do congresso, isto é, da definição de cada painel. O lado bom é que a matéria atuarial é vasta. A sociedade tem muitos desafios para superar. Em muitos desses temas, a atuação dos atuários é de suma importância, tais como: na previdência social, pública e complementar, na saúde suplementar, nos seguros, só para citar alguns, nem entramos na questão climática e tantos outros que batem à nossa porta a cada dia. Acrescenta-se a isso o ambiente de negócios que se tornou mais complexo e de risco elevado. Onde existe risco – o atuário pode contribuir com o seu conhecimento. O risco é a matéria prima que faz parte do cotidiano do atuário. Eu recomendo que vocês entrevistem os outros diretores da comissão científica, pois são muitos painéis. Eles poderão abordar bem os temas que trataram melhor que eu. Mas eu posso dar uma pincelada em dois painéis que participei da concepção. O que trata de “Oportunidades de melhoria nas divulgações de demonstrações financeiras de obrigações com empregados” que terá a Rosangela Yuki, coordenadora do comitê de benefícios aos empregados, como moderadora e três palestrantes, Natasha Ayres, diretora da WTW, João Pinto, sócio da Deloitte dois grandes profissionais atuários e o Rogério Mota, diretor técnico do IBRACON. Esse painel abordará questões que afetam as demonstrações financeiras das companhias. É um tema em que os atuários trabalham de forma conjunta com os contadores. Sabemos da importância do tema, visto que os investidores precisam ter transparência, quanto às questões de natureza econômica, financeira e atuarial das companhias que patrocinam benefícios aos empregados para direcionar os seus investimentos. O outro painel trata de “Oportunidades de expansão do mercado aberto de anuidades no Brasil”. Neste painel teremos o Dr. Ricardo Pacheco, atuário, docente e pesquisador da USP, Carlos Almeida da SUSEP e Bernardo Castello, atuário e diretor técnico da Bradesco Vida e Previdência. Eu ficarei com a tarefa mais fácil por assim dizer, de moderar o painel. No passado os atuários estavam presentes em peso nas Entidades Abertas de Previdência Complementar, mas a partir da década de 2000, os atuários partiram para novos desafios em outros mercados. Por outro lado, já se passaram exatos 30 anos da criação dos produtos das famílias de PGBLs e VGBLs. Os consumidores deixarão de contribuir para esses fundos para começar a receber os benefícios.
O painel tem a finalidade de trazer uma reflexão para os players.
O que pode acontecer? Quais serão os valores desses benefícios?
Afinal, quais os fatores que impediram até agora a expansão do mercado aberto de anuidades no Brasil? Esses fatores de impedimento podem ser removidos?
De que forma o modelo fechado de previdência complementar pode contribuir com o modelo aberto de previdência complementar e vice-versa?
Essas e outras questões serão respondidos no painel. Eu gostaria de aproveitar a ocasião para convidar os gestores de Entidades Abertas e Fechadas de Previdência Complementar para estar presente neste painel. Corram que ainda tem tempo de fazer a sua inscrição: https://14cba.atuarios.org.br
(ER): Como você vê a profissão de atuário no Brasil, mais especificamente no segmento de seguros e de que forma o Congresso pode ajudar na valorização do atuário?
MP: Eu vejo de forma muito positiva. Existem muitas oportunidades para o crescimento da profissão nas vertentes tradicionais e não tradicionais. A complexidade do mundo dos negócios é uma realidade e os grandes desafios da sociedade, faz com que a nossa profissão seja, à medida que o tempo passa, mais valorizada. Em todos os segmentos em que a Ciência Atuarial está presente as oportunidades surgem. Trabalhamos em mercados altamente regulados em que a SUSEP, a CVM, a PREVIC e a ANS estão presentes. Indiretamente para tantos outros devido a capilaridade das indústrias para quem prestamos serviços. Muito da valorização que obtivemos nas últimas décadas passa pela ação dos órgãos de supervisão que fiz menção. Eles são na essência as locomotivas que fazem as organizações se movimentar para fazer investimentos em tecnologia, mão-de-obra e tantas outras frentes dentro das organizações. Você pergunta sobre o mercado de seguros. Foi o segmento que mais evoluiu nas últimas décadas. É espetacular o aumento do nível de tecnicidade pelo qual passou. Não à toa é um dos segmentos que mais valoriza o atuário. Lá estão as maiores ofertas de salários. Isso ocorreu devido ao aumento do nível de tecnicidade exigido do setor. Um exemplo disso é o IFRS 17. Mal começou a adoção do IFRS 17, o segmento já tem como desafio as questões atuariais relacionadas com o risco climático e a sustentabilidade, temas complexos que despertam a atenção das organizações. Você não ouve problemas de insolvência no setor. Não foi por acaso que passamos por uma tragédia da dimensão que tivemos no Rio Grande do Sul, sem problemas de insolvência no setor. Eu acredito que os demais órgãos de supervisão deverão seguir o mesmo caminho da SUSEP na busca de maior tecnicidade de suas supervisionadas.
Eu tenho feito palestras nas universidades e sempre sou perguntado sobre onde estão as maiores oportunidades. Sem dúvida, o mercado de seguros é um desses lugares. Uma outra grande oportunidade que pouco se fala e eu tenho insistido nesse tema é a adoção da NBS-TSP 15, norma contábil que passou a exigir dos Entes Públicos uma nova avaliação atuarial. É isso mesmo – uma nova avaliação atuarial. É um grande mercado que se abre para o atuário, à despeito das incompreensões de alguns sobre o tema, dificilmente teremos retrocesso neste assunto, mas é preciso que os tribunais de conta se preparem de forma adequada para atender essa grande demanda. Nesta semana, em um evento quando fui indagado por alguns representantes de tribunais de contas de como deveriam fazer para dar cabo desse grande desafio que eles têm pela frente, sugeri a contratação de atuários. Eu costumo dizer que uma das razões do sucesso da SUSEP em sua missão é o fato de ser o órgão de supervisão que mais possui atuários em seus quadros.
Naturalmente, tudo isso passa pela qualificação. Tem várias formas em que o atuário tem para melhor se qualificar. Uma delas é por meio do IBA. Tenha certeza de que isso faz parte da agenda da presidente, vice-presidência e dos diretores do IBA. Temos muito que melhorar, sem dúvida. Mas uma das formas de qualificar o atuário passa pela participação dele no Congresso. Não à toa a sua participação no Congresso traz uma pontuação elevada.
(22.08.2024)